segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ah, quanta inocência...

Partilho um dos meus mais antigos e traumáticos momentos da minha infância.

Quando tinha 3 anos, havia à venda um pudim, daqueles que se vendem em embalagens do género do iogurte.

Tomei conhecimento desse pudim através de um anúncio de televisão. Nesse anúncio, o pudim tinha pernas e olhos. E mal se abria a tampa, ele dava uns saltos enormes, e os miúdos tinham que andar atrás dele de colher em riste a tentar dar umas colheradas. Mais ou menos como se alimentássemos açúcar a uma bola-pinchona. Eu papei aquela besteira toda que nem um diabético a comer queques. Eu tinha que domar e comer aquele pudim, pois tudo aquilo me pareceu bastante divertido e agradável. Daí que tenha feito o choradinho à minha mãe para mo comprar.

Chegou o dia. A minha mãe comprou uma embalagem de quatro. Diversão a quadruplicar.
Lembro-me de ela me ter perguntado se queria comer logo um, mal ela chegou. Com um tom de descrédito e piedade pela ignorância da minha mãe face ao evento épico que ia ser comer aquele pudim, eu respondi "Pfffft, ó mãe... Isto não se come logo assim, é preciso preparar a cozinha, que aviso-te já, vai ficar uma bagunça".
Eu preparei-me. Na verdade, preparei-me para uma caçada ao Abominável Homem das Neves. Tinha redes, cordas, colheres de todas as formas e feitios, facas de plástico (para dar estilo), óculos de mergulho que eram a cara de um sapo e um funil na cabeça a fazer de capacete. Tinha sonhado com aquele momento, tinha que estar preparado para tudo.

Era o momento. Lembro-me nitidamente de fechar as portas, pegar numa embalagem, pousa-la na mesa à minha frente e respirar fundo. Então, agarrei nele, segurei-o à distância, virei a cara, fechei os olhos e levantei a tampa. E então..

Nada, obviamente.

Olhei com profunda incredulidade para uma massa castanha inerte na sua sepultura de plástico fino. Nada de aventura, nada de pudins de desenho animado aos pinotes, nada de gritos e excitação. Comer aquele pudim era, afinal, tão excitante quanto ver um idoso a dormir.
Experimentei então dar umas pancadas com a colher naquilo, não fosse precisar de reanimação. Agora, além de triste estava todo cagado.

Então, a minha mãe explicou-me que aquilo era só na TV. Na realidade era um pudim normal.
A TV, que era a minha melhor amiga! A TV que me trazia o He-Man e os Transformers! Quanta dor.
Senti-me traído até às 16h, altura em que começava o Brinca Brincando e eu já tinha esquecido todo o evento à 3 horas atrás.

Mas por agora, ainda estava com aquela porcaria na mão, segurando-a com a mesma vontade com que seguraria uma fralda suja e pestilenta. Agora solícita, após seguramente se ter divertido com a minha figura, a minha mãe disse para eu tirar aquilo para um prato e comer.
E então, eu assisti àquela mistela a desmoronar-se a minha frente, assim como os meus sonhos, expectativas e esperança de uma vida normal. Aquilo não só não saltava e fugia, como nem sequer aguentava a forma em cima do prato. Foi como descobrir que o pai de um nosso colega de quem diziam ser um campeão de atletismo, ser afinal tetraplégico.

Fui encorajado a provar e a comer. Pensei eu que ainda teria alguma consolação. Mas não, aquilo era uma porcaria. Ou seria antes, o sabor azedo da vergonha por ter sido um lorpa? Acho que nunca saberei.

Assim aprendi duas das mais duras lições de vida que se podem aprender aos 3 anos de idade:
- A primeira foi que não se deve acreditar em tudo o que se vê ou ouve, mesmo que seja a TV a dizê-lo.
- A segunda foi que o que conta é o que está no interior. E, pelas cuecas do Pai Natal, aquele interior era mesmo atroz.

Reforço que, até às 16h desse mesmo dia, fui um rapazote a quem a vida duramente ensinou umas poucas de lições. E saboreei o triste e amargo sabor, tanto do pudim como da desilusão.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Conversas com a cara-metade

#1

- Se tivesse vivido na época dos Romanos, e tivesse um filho, chamar-lhe-ia Coitus Interrompidus.
- Porquê?!
- Porque quando o chamasse e ele me respondesse "Agora?! Assim vou ter que deixar isto a meio!" eu me rir ao estilo aspirador asmático.
- Só mesmo tu...
- Obrigado!
- Não era um elogio.
- Era isso ou Escrotus.
- ...
- Percebeste?... "Lá está o Escrotus a coçar-se...", ou então "Escrotus, temos que cortar esse cabelo!", ou mesmo "Escrotus, não quero que andes com aquele chato!", ou...
- Chega.
- Mas eu tenho uma lista...

#2

- Lipa?
- Não.

#3

- André, afinal tinhas razão.
- Eu sei... (cara de mete-nojo)
- Ah sim? E tinhas razão em quê?
- Quero lá saber! Isso chega!

#4

- Estou pronta para ir embora!
- Não estás não.
- Se te estou a dizer que estou é porque estou! TU é que não te despachas e estás aí deitado a jogar Pac-Man no telemóvel! Anda lá, despacha-te!
- Eu só tenho tenho que me pôr a pé e arrancar!
- Eu também!
- Ok, então vamos!

(ponho-me de pé e arranco a todo o gás)

- Espera que ainda me faltam fazer duzentas coisas!

#5

- No outro dia descobri que se aparar a barba só no queixo e deixar o resto fico igualzinho Wolverine! Mas mesmo assim aparei-a toda por igual, porque sei que não ias gostar. Não sou um espectáculo?!
- O simples facto de eu saber quem é o Wolverine bate isso aos pontos.
- Touché. Podias era deixar de dizer que ele é um gatinho.
- Porquê?
- Magoa um bocadinho... E escusas de arruinar por completo a minha infância...
- Náá, assim é mais divertido.
- E se eu dissesse que os Ursinhos Carinhosos são o resultado de uma overdose de açúcar?
- Eles são fofinhos, e o Wolverine usa collants.

*André esfrega vigorosamente as têmporas antes de responder*

- Já te expliquei que aquilo é o uniforme dele, e tem que ser assim para não lhe atrapalhar a agilidade felina.
- Então admites que ele é um gato?
- Vou dar uma volta.

Muito obrigado à minha namorada Filipa, sem quem a minha vida não tinha piada nenhuma.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Mas afinal, quem é que ainda não foi a Paris?

Paris Hilton's My New BFF.

Já vi um episódio deste rejecto do inferno. Orgulho-me do facto na mesma medida em que um morto se orgulha de não respirar. Levei, literalmente, as mãos à cabeça por várias ocasiões, para gáudio de quem me rodeava. Qual computador com Windows 95, o meu cérebro crashou. Tal era a quantidade de reparos que, em 20 segundos de programa, já tinha para fazer. E depois, eu sou extremamente irritante, porque de cada vez que reparo em algo tenho medo que o resto da plateia não tenha. Então saliento-o. Neste caso nem conseguia. Ainda não tinha acabado o anterior e já tinha um melhor. O desespero...

É basicamente mulheres adultas histéricas e artificialmente produzidas, a tentar agradar a um cliché ambulante muito loiro. E a que agradar mais é a que ganha.
Eu assisti, com estes olhos, a raparigas franzinas com vozes fininhas que afinal eram homens.
A choro, conflitos, palavrões, discussões, quase pancada, maledicência e intriguismo, em nome do que "A Paris gosta".
Eu assisti a essa mesma Paris a chamar pêga a uma das concorrentes porque, num dos inúmeros e ridículos desafios que elas tem que passar, ela "atirou-se em demasia a um rapaz". A mesma Paris que todos os dias tem o nome associado a escândalos sexuais e protagoniza um filme pornográfico amador onde mostra que apesar de muito muito muito muito muito estúpida ainda tem algum uso. Sem dúvida do mesmo calibre que um eunuco se virar para outro homem e afirmar "Coitado, a tua pila é pequena".

É mesmo muito mau. Porque é que seres-humanos haviam de querer a aprovação dela? Raios, porque é que animais haviam de querer a aprovação dela?
E não me digam que é pelo dinheiro. Elas CHORAM de excitação sempre que ela se aproxima. Já eu fico admirado como é que ela consegue efectuar o processo de respiração sem ajuda. Porque acredito que tudo o resto lhe seja transmitido por terceiros.
E andam pessoas a submeter-se à opinião dela sobre comportamentos, condutas e savoire faire do que pode muito bem ser a pessoa mais fútil, ignorante, pretensiosa e loira do planeta.
A cara de sonsa da Paris Hilton dá-me vontade de a agredir fisicamente de forma violenta. Nem precisa de abrir a boca, só a cara dela me revolta as entranhas. Odeio-a. Não a conheço de lado nenhum e odeio-a mesmo muito. Tenho vontade de lhe tirar aquela tiara da cabeça com uma paulada violenta, usando o seu ceptro de princesa. Tenho vontade de a obrigar a assistir ao seu próprio programa. É quanto ela me irrita.

Não quero ofender ninguém, é só a minha opinião que vale tanto como a próxima. Mas as conclusões a que cheguei, foram as seguintes:

- Se a Lili Caneças defecasse e depois quisesse ser amiga do excremento, era este o resultado.
- É daqueles crimes televisivos que faz conceitos como o suicídio parecerem perfeitamente aceitáveis.
- O Inferno é passar uma eternidade a ver reposições desta série, com um calor do caraças.
-É tão agradável de assistir como ver um musical ou ver pornografia à frente dos pais.
- Tive a mesma facilidade em assistir ao programa do que um maneta tem a jogar Wii de olhos fechados.
- Se estivesse a ser chicoteado há 2 horas e me perguntassem "Preferes antes ver o BFF?" eu responderia "Nááá, deixa estar".
- Julgo que a forma que os Aliados encontraram para vencer a 2ª Guerra Mundial foi enviar a temporada inteira para o bunker do Hitler, disfarçado numa caixa da série "Jardinagem para ditadores psicóticos". Imediatamente Hitler resolveu pôr termo à sua existência , proferindo as suas últimas palavras: "Nenhum destino que me possa esperar, será pior do que ver este cruzamento entre um camião de cosméticos e uma lata de tinta para o cabelo, a abrir a boca para falar".
- Se um javali com desarranjo intestinal engolisse uma máquina de filmar inteira, e ficasse registado todo o processo de digestão do animal, o resultado final à beira de um episódio de BFF era material para um prémio cinematográfico.
- É pior do que ter o rabo salpicado com água da retrete.
- O Bruce Banner viu um episódio de BFF, e então transformou-se no Hulk. O Hulk, por sua vez, viu outro episódio e ficou verde.
- O leite viu um episódio e então azedou.
- O zombie viu um episódio e morreu outra vez.
- O Castelo Branco viu um episódio e resolveu gravar um disco.
- O Alberto João Jardim viu um episódio e disse "F*#@-$e!".
- A televisão viu um episódio e repensou a carreira.
- O sexo viu um episódio e abraçou o celibato.
- O Chuck Norris viu um episódio e ficou ligeiramente perturbado.
- O dicionário viu um episódio e eliminou a palavra "decência".
- O Miguel Sousa Tavares viu um episódio e ficou assim.

Podia continuar, mas já fui longe demais.