Não sei se ainda passa na TV, mas na RTP 2, num dia qualquer à noite, dava (ou ainda dá) um programa de stand-up chamado "Sempre em Pé". Bom, alguém teve a ideia brilhante (e aqui a palavra chave é brilhante), de convidar o extremamente conhecido humorista Sá Leão, o produtor de autênticas pérolas da comédia como por exemplo "Eu, o meu marido e Sá Leão", "Stripper Portuguesa", e o meu favorito, "Badalhocas, engates de rua". Isto é uma piada, pois como toda a gente sabe ele não é comediante. Ele é plastificador de documentos e estes filmes são documentários.
Tudo o que é a seguir relatado é a mais pura das verdades. Ele salta para o palco, e faz uma espécie de dança obscena, que se assemelhou bastante a um gorila com cãibras. O tema sobre o qual ia falar para mim não foi surpresa: aconselhamento conjugal. Sendo ele plastificador de documentos está mais do que creditado e certificado pela Universidade da Vida para falar deste assunto. A actuação dele consistia no seguinte: abanar-se mesmo muito e falar muito alto. Não obstante esta técnica soberba, resolveu apimentar o discurso, obrigando, literalmente, um casal a subir ao palco. Puxou-os mesmo. Pelos braços. Enquanto se abanava e falava mesmo muito alto. Bom, e isto para o quê? Para eles ficarem lá de pé a beira dele, enquanto ele acabava de contar a sua anedota e de dar o dito aconselhamento. Eu acho esta técnica fantástica, para não dizer mesmo atroz. Criou suspense ao ponto de quase se ouvir as pessoas a pensar,mas os dois ouvintes (que, acho seguro afirmar, já ganharam o céu), ficaram lá especados, apenas a levar com o tapete que ele trazia enrolado na cabeça. Lá pelo meio ainda fez uma piada qualquer alusiva a filmes pornográficos que eu não percebi, não faz nada o seu género. Quando acabou, mandou-os sentar e voltou a ter cãibras ou espasmos, não sei porque não sou veterinário. Rematou com um conselho/verdade universal que ditava: as mulheres chateam os homens e eles por sua vez não satisfazem sexualmente as mulheres, exceptuando ele.
E foi assim que me ausentei para o Tibete durante um mês, a fim de tentar aprender técnicas avançadas de auto-hipnose, com vista a bloquear ou recalcar aqueles 15 minutos da minha existência, que foram tão agradáveis como ser debulhado por uma ceifeira conduzida pela minha Prof. de Francês do 7º ano. E antes que me digam "és um asno, mudavas de canal", respondo já: impossível. O mesmo se passa quando vemos aquelas pessoas na rua com seis braços, quatro orelhas ou duas pernas: sabemos que não devemos olhar, mas é impossível não o fazer.
Qualquer conselho conjugal proveniente de um realizador de filmes pornográficos, e ainda para mais vindo do sobredito, eu acolhia-o com EXTREMA precaução e uma vacina contra o tétano.
"Nunca vivi um grande amor." Sá Leão in "Nova Gente", Janeiro de 2006
"Faz uma cena dos teus filmes que dure mais do que 20 minutos." André Costa in "Teme os Ninjas", Julho de 2008