terça-feira, 21 de abril de 2009

O que o trânsito faz às pessoas

Estava no trânsito há uma eternidade. Ou duas. Estava a ir para o trabalho. Passado algum tempo, a perna da embraiagem parece que começa a mingar, de tanto "pára-arranca". Começo a indagar como é humanamente possível que tantos dromedários tenham licença de condução.
O meu cérebro começa a ceder.
Anda lá, mete lá o carro. Já meteste metade e agora é que me perguntas se podes?! - pensava.
Eu, muito honestamente, não acho que as mulheres sejam más condutoras. Aliás, já vi uma que fazia tantas coisas ao mesmo tempo, que até com a testa buzinava, só para manter as mãos desimpedidas. Mas com o cansaço, começava a achar verdadeiros os estereótipos. Elas têm um problema quanto a calcular as distâncias.
Achas mesmo que o meu carro passa contigo aí assim?!
O meu cérebro cede mais um pouco ao stress.
Nesta altura, a ideia de espetar o meu carro na traseira do da frente, faz todo o sentido para mim. E sair do carro, despir-me e cantar em cima do tejadilho já esteve mais longe de ser absurdo.
O carro de trás buzina, porque à minha frente existem 10cms de espaço entre mim e o próximo automóvel:

- Então, não anda?!
- Não. Este carro é para exposição, e estou a espera que construam o stand à minha volta. Estúpido.

Não fosse o gelado que comi antes de sair de casa e tudo tinha sido pior. E então atingiu-me, como uma gaja mesmo muito feia a tentar galantear-nos: o gelado era um pinta-línguas.
Olhei ao espelho... Parecia que tinha comido o almoço do Shrek. Dentes, língua, gengivas: tudo verde.
Tentei salivar apressada e abundantemente, mas era tarde e de nada servia. O trânsito começou a andar. Não havia volta a dar: tinha que conseguir entrar, não cumprimentar ninguém e chegar a uma casa de banho.
Cheguei e entrei... Ninguém à vista! Avança, vai vai vai!
Virei uma esquina:

- Oh André, viva, então? Tudo bem? Este trânsito hoje está impossível!

Tentei conter-me...

- Bem pela sua cara, já vi que estava mesmo mau! E aqueles indivíduos que se põe a buzinar mal existe um espacinho minusculamente exíguo à nossa frente?!

...apenas uns segundos:

- É verdade! São uma pandilha de mentecaptos! E mais...
- Oh André, mas você andou a comer musgo ou lava os dentes com folhas de arbusto?
- Não. Foi um micróbio que estava a transportar clorofila num camião-cisterna, do meu molar inferior esquerdo, para o canino superior direito e teve um acidente. Estúpido.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Então é assim

Se um dia eu for pai de uma filha, e após muito cogitar sobre este assunto, já decidi como se vai chamar:

Se me comes és paneleiro porque na verdade eu sou transsexual da Costa

E para jogar ainda mais pela seguro, não a vou matricular imediatamente na escola, para ela não descobrir que tem vagina até fazer uns 35... Ok, 40 anos.

Já na eventualidade de ter um filho:

Tenho um bacamarte gigante da Costa

Por duas razões: primeiro todos iam dizer "este sai ao pai", e segundo, todos iam dizer, "tal pai, tal filho".
Aí estariam dois miúdos condenados a ter sessões reforçadas de terapia psicológica para toda a vida.

E já que falamos de filhos, porque é que aquelas tias quando vêem o miúdo a brincar com uma bola dizem logo "este vai ser jogador de futebol", quando o vêem a brincar com carrinhos dizem "este vai ser piloto", mas quando o vêem a mamar, pendurado nas mamas da mãe, 90% do tempo em que estão acordados, ficam mudas que nem um túmulo? É que a mim ocorre-me uma ou duas profissões que envolva o manuseamento de seios com a boca e mãos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Não te enxergas

Amigo 1: Já reparaste que a TV é um electrodoméstico fenomenal? Estás aborrecido, ligas a TV. Tens convidados chatos, ligas a TV. Alguém numa festa não está confortável, liga a TV. Tens que ir ao WC e não tens o que ler, levas para lá a TV. E a seguir liga-la. Alguém com quem conversas fala, fala, fala, fala, fala, limpa a saliva dos cantos da boca porque é um bocado fanhoso, fala, fala, fala, e continua a falar...
Amigo2: Vou ligar a TV.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A minha primeira vez

A primeira vez que vi um filme pornográfico, não sonhava sequer no que me estava a meter.
Andava eu no quinto ano, portanto tinha 10 anos. Tardiamente, comparado com agora, mas na altura não havia internet: o maior depósito de silicone do mundo.
Um colega de turma, chegou a minha beira e diz-me:

- Olha, logo queres ir a minha casa ver um filme?
- Claro... Qual?
- Chama-se Força-Delta.
- Parece-me bem. É com o Chuck Norris?
- Não sei, é capaz.

Mais tarde, quando nos encontramos, afinal tinham vindo mais 2 colegas meus de turma, que parece que também andavam um pouco perdidos. Um até trazia uma pistola de plástico. Quando chegamos a casa dele, fomos para a sala, que tinha uma imagem da Nossa Senhora bastante grande a um canto e bem lá em cima numa plataforma suspensa, de maneira que ficava mesmo virada para nós, que estávamos sentados no sofá. O anfitrião foi buscar uma cassete sem caixa, embrulhada num papel e escondida debaixo de uma mesinha. Pô-la no vídeo:

- Fixe, está a começar!
- Vá calem-se!
- I fuck your mother Productions? Nunca ouvi falar...
- O que é que aquela gaja está a fazer?

E então, cachinga, que foi o barulho que os nossos maxilares fizeram ao cair no chão. Afinal, o meu colega não sabia que o filme era para adultos. Encontrou-o um dia e achava que era de acção. E não se enganou.
E lá estavamos nós: 4 miúdos de 10 anos, a ver algo do género pela primeira vez, com os olhos atentos da Nossa Senhora ao canto, que nos julgava em silencio. É então que chega a irmã do anfitrião:

- O que é isto?! Vou dizer ao pai!
- Cala-te, sai daqui! Estúpida! Baza! E diz, quero lá saber!

A irmã não bazou, antes ficou de pé à entrada. Parece que afinal ela também nunca tinha visto algo do género. E ainda bem, porque aquilo era impossível de ficar mais constrangedor.
Passada uma meia hora de enfermeiras vorazes que se aproveitavam de doentes terminais com uma erecção descomunal, já nos tínhamos ambientado mais:
- Um adoptou uma pose de completo interesse por aquilo, mas dava a sensação de estar a observar de um ponto de vista científico. Estava a tentar sorver o máximo de informação.
- Outro, estava completamente descontrolado e sempre que alguém entrava num veículo dizia "Ei, achas que vão fazê-lo dentro do carro?!". Volta e meia mandava a irmã embora de novo.
- Outro ainda, estava enterrado no sofá até se perder de vista. Vermelho de vergonha, não parava de deitar olhares furtivos à irmã do outro colega, que por sua vez estava de braços cruzados e não parava de dizer "Que nojo! Ui, nojo!".
- Já eu, que estava na ponta do sofá, não me conseguia concentrar. Era o que estava mais próximo da imagem! Não parava de olhar para ela e de pensar "Isto não está certo, não devia estar a ver isto à frente da Nossa Senhora! Mas há mamas à mostra e mais ainda! Como é que posso não olhar?!".
Nenhum falava. Só se ouviam os gemidos, as pancadas secas ritmadas, e a irmã do meu colega a dizer "que nojo!". Mais uma olhadela para o lado. Já ouvia a orquestra dos julgamentos divinos, sempre que o fazia, por entre os "oh yeah, right there, fuck me harder!" e os "QUE NOJO!" que agora subiam de tom pois o filme tinha escalado para uma orgia.
Foi então que disse:

- Oh "coiso", não queres trocar de lugar comigo?
- E ir para o inferno?! Não obrigado... Daqui Ela não me vê.

Atenção, eu já tinha visto muitas vezes o Água na Boca e o Playboy, que davam na SIC, mas não me tinham preparado para nada tão... explícito. Já para não dizer que ainda estava em idade de achar que as pessoas só faziam amor. Aquilo não era bem o que tinha em mente...
Quando acabou, por educação, achei bem dizer adeus à irmã do meu colega, mas ela nem respondeu. Aliás a nenhum de nós. Naquela tarde, uma mudança tinha ocorrido em nós: éramos homens feitos - já sabíamos como era uma vagina.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Curta e muito negra

Já passou pela cabeça de alguém que a Maddie pode simplesmente ser MUITO BOA a jogar às escondidas?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Teoria da ameaça visual

Ah é?! TU VAIS VER!

Como se concretiza esta ameaça? Porque ela é muito mais específica do que o seu uso recorrente possa fazer parecer. Implica que, o indivíduo que é o objecto da vingança, presencie a mesma e a veja desenrolar-se.
Passo a exemplificar, enquanto sorvo mais um trago de Fresky Frutos Tropicais e me esforço por compreender porque é que o vizinho do lado, que vejo pela janela, insiste em dançar ballet no quintal, usando como tutu uma tampa de caixote do lixo estrategicamente recortada:

Indivíduo 1: Copulaste com a minha mulher?!
Indivíduo 2: Bem... Sim.
Indivíduo 1: Tu vais ver!

Primeiro que tudo, sim, a palavra cópula faz parte do léxico que uso em contexto social. Agora, debrucemo-nos pois sobre este assunto, com o mesmo empenho com que a mulher do Indivíduo 1 se debruçou sobre o pénis do amigo do marido.
Esta ameaça implica que, no momento da retribuição por esta javardeira traiçoeira, o Indivíduo 2 esteja presente e bem atento ao que se suceder. Ele tem que visualizar.
Por exemplo, o Indivíduo 1 pode abeirar-se, por sua vez, da mulher do Indivíduo 2 (que sei de fonte segura que é uma avantajada porcalhona), e incitá-la a praticar o coito com ele. Se tudo for cuidadosamente planeado, o Indivíduo 2 entra no quarto mesmo a tempo de ver ambos a conspurcar o seu próprio leito conjugal. Com a esposa a fazer com o Indivíduo 1 coisas que nunca na vida fez com ele, nem que ele julgava sequer possíveis. Se tudo correr bem, o Indivíduo 2 fica com tamanhas mazelas psicológicas que se muda para os Alpes, onde passará os dias a cantar o Yodel, vestido com uma tampa de caixote do lixo estrategicamente recortada. Provavelmente também vai tocar reco-reco, para acompanhar.
Pessoas na rua, ao passar por ele, ou os vizinhos, que escrevem um post e bebem Fresky em casa, vão olhar e vão dizer: Olha... Aquele viu... E de que maneira.

Aplica-se uma excepção claro, que são os invisuais, para os quais se devem empregar outros tipos de ameaças:

- Tu vais sentir!
- Tu vais ouvir!
- Tu vais degustar!
- Tu vais cheirar!

Qualquer uma delas apresenta um largo menu de opções de acção, mas deixo-as à vossa imaginação e falta de escrúpulos. Fazer mal a um cego, sinceramente.
A não ser que quem diga seja milagreiro, e ao dizer ao cego tu vais ver esteja efectivamente a prometer restaurar-lhe a visão, um dia destes.